A infância em várias fases

 

Acompanhamos o desenvolvimento de uma sociedade em que as transformações ocorrem constantemente e em um ritmo acelerado. A cada segundo, milhares de informações são enviadas e recebidas em uma velocidade impressionante. As gerações se adaptam às mudanças na mesma velocidade com que os pesquisadores avaliam os novos comportamentos.

Fazendo parte das transformações, temos a interessante perspectiva de como a função da criança mudou na trajetória das décadas. Há algumas centenas de anos, os bebês eram vistos como um desfavor à sociedade, pois na época não existiam métodos contraceptivos e a taxa de natalidade (e mortalidade) infantil era altíssima. As crianças aprendiam com os adultos a como servir, cuidar da casa e viverem sozinhas. Muitas não chegavam ao que conhecemos hoje como adolescência.

Aliás, o ideal de adolescência surgiu muitos anos depois, com a chegada da Igreja, da moralização e da escola. Esta última sendo um local de educação e aprendizagem das crianças, que não mais ficariam misturadas aos adultos. Foi nesse momento em que as mães foram encorajadas a cuidarem de seus filhos, a torná-los adultos.

Ao longo do tempo, a infância foi sendo inventada, construída, interpretada e nomeada como tal. Assim, ganhou visibilidade e reconhecimento como um momento importante da vida.

Com isso, há que se reconhecer a relevância que o lugar da infância tem ocupado em nossa cultura. Porém, se de um lado estamos diante do reconhecimento da infância como um momento importante na vida do ser humano, de outro, estamos conferindo as crianças um poder e uma capacidade que pouco tem a ver com suas potencialidades (próprias deste momento da vida), com sua maneira particular de ver o mundo baseada essencialmente nas experiências vividas e não na elaboração mental que faz do que está ao seu redor. Na possível tentativa de reparar o pouco espaço que as crianças tiveram no início da nossa sociedade, estamos indo para o extremo oposto e confiando à elas poder de escolha e decisão que elas não tem maturidade para desempenhar.

 


 

Yara Giambona

Psicóloga CRP 10.9258-6